Ele já foi símbolo de poder, expressão espiritual, rebeldia estética — e, sim, também foi chamado de "excesso" por quem não soube enxergar sua força. Mas o fato é: o ornamento nunca saiu de cena. Da cerâmica neolítica às passarelas contemporâneas, ele sobrevive, se reinventa e continua carregando significados que vão muito além da beleza.
Mas antes de tudo, vale perguntar: o que é ornamento?
Ornamento é qualquer elemento visual criado com a intenção de embelezar, destacar ou comunicar algo — sem necessariamente ter uma função prática. Ele pode ser gráfico, têxtil, arquitetônico, simbólico. Pode estar numa parede barroca ou na estampa do seu biquíni. Mas uma coisa é certa: ele nunca é só enfeite.
Ornamento é linguagem visual. É a forma que encontramos para contar histórias sem precisar de palavras. É cultura impressa na superfície: nas roupas, nos objetos, nas paredes. Mais do que isso: é uma das ferramentas mais antigas de comunicação da humanidade. Antes da escrita, ele já nos contava sobre rituais, hierarquias, afetos e crenças.
Sem ele, muito da história dos povos e civilizações teria se perdido — ou sequer poderia ser contada. Cada detalhe em um objeto diz algo sobre a época, a sociedade e sobre quem o criou ou usou.
Durante o modernismo, ele foi condenado — a crítica mais famosa veio do arquiteto austríaco Adolf Loos, que em 1908 escreveu o ensaio "Ornamento e Crime". Nesse texto provocador, Loos argumentava que o uso de ornamentos era um sinal de atraso cultural. Para ele, a verdadeira evolução da humanidade se dava pela racionalidade e funcionalidade — e o excesso decorativo seria um resquício de eras primitivas, algo a ser superado. Essa visão, que associava simplicidade à civilização e ornamento à barbárie, moldou os ideais do design modernista e influenciou diretamente o surgimento do movimento minimalista como conhecemos hoje.
Mas nem isso foi capaz de silenciar sua potência. No fundo, o mundo sempre foi mais ornamental do que minimalista (Fala aí, Deus?). A diferença é que hoje a gente questiona cada vez mais esse suposto "avanço" estético do minimalismo — e começa, aos poucos, a valorizar com mais consciência tudo aquilo que carrega história, camadas e expressão.
Se você trabalha com design, moda ou criação de produto, entender o valor simbólico do ornamento é enxergar além da beleza. É acessar camadas de memória, identidade e desejo. É saber usar o detalhe como narrativa — e não só como decoração.
O ornamento está nas tramas da história e nas estratégias visuais das marcas mais vanguardistas do mundo. E se você acha que ele é coisa do passado... bom, talvez esteja olhando superficialmente.
O ornamento é o elo entre a memória ancestral e o desejo de inovação. Através dele, traduzimos emoções, ideias e valores em forma visual — e isso se perpetua. Porque ornamento é também projeção: fala de quem fomos, de quem somos e do que ainda queremos ser.
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