Antes de qualquer coisa, é importante lembrar: o ornamento não nasceu no Ocidente. Povos originários de todas as partes do mundo — inclusive da própria Europa pré-cristã — sempre usaram formas, cores e padrões para expressar mundos. Criaram superfícies que protegiam, encantavam e transmitiam símbolos de geração em geração. São essas culturas que formam minha maior fonte de inspiração.
Mas nesta série, escolhi fazer um recorte específico: observar como o Ocidente — especialmente dentro da lógica moderna e eurocentrada — passou a se relacionar com o ornamento ao longo do tempo, a partir de um ponto de virada simbólico: o Barroco.
Aqui, é importante fazer uma distinção. O que chamamos de "história ocidental do ornamento" não começa com o ornamento em si — porque ele já existia muito antes. O que começa, na verdade, é uma tentativa de organizar e classificar esse gesto visual a partir de uma lógica cristã, colonial e racionalizante. Uma história contada desde quando a Igreja passa a dominar os territórios europeus e silenciar os símbolos das culturas pagãs. Ou seja: esse percurso que vamos seguir não é neutro. Ele já nasce recortado, com todas as intenções e ausências que isso carrega.
Ainda assim, esse recorte é potente.
Porque revela como o Ocidente passou séculos entre o fascínio e o desprezo pelo ornamento — ora o colocando no centro da expressão estética, ora o acusando de excesso. E é nesse vai e vem, cheio de rupturas, resgates e contradições, que a nossa série mergulha.
Vamos observar como, a partir do Barroco, o ornamento deixa de ser só moldura e vira mensagem. Como ele se transforma em linguagem emocional, política, simbólica. E como essa linguagem foi sendo renegada, redescoberta e reinventada até os dias de hoje.
🌀 Nossa Linha do Tempo
Uma viagem por 10 movimentos visuais que marcaram a história do ornamento ocidental:
1. Barroco (séc. XVII) — Emoção, ouro e excesso. O ornamento como fé e espetáculo.
2. Rococó (séc. XVIII) — O exagero ganha leveza. Estética como intimidade e prazer.
3. Neoclassicismo (fins do XVIII - início do XIX) — Ordem, razão, limpeza. O ornamento volta pra moldura.
4. Romantismo e Revivalismos (XIX) — Nostalgia histórica. Citações do gótico, medieval e oriental.
5. Arts and Crafts (segunda metade do XIX)— O feito à mão como resistência estética e ética.
6. Art Nouveau (fins do XIX - início do XX) — Curvas sensuais, natureza e ornamentação autoral.
7. Art Déco (déc. 20–30) — Geometria, simetria e luxo gráfico.
8. Modernismo (séc. XX) — A rejeição. “Ornamento é crime”: o auge do minimalismo funcional.
9. Pós-modernismo (déc. 70 em diante) — Resgate irônico e plural. O ornamento volta com outras intenções.
10. Digital e Contemporâneo (2000 até hoje) — Superfícies infinitas, cultura remix e liberdade estética.
Curiosa pra entender como o ornamento se tornou parte essencial da nossa linguagem visual — e por que, em tantos momentos, ele foi silenciado?
O primeiro episódio sai amanhã — vem comigo nessa jornada onde forma, história e expressão caminham juntas.
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